terça-feira, 1 de julho de 2014

As Virgens Suicidas, Jeffrey Eugenides


Título: As Virgens Suicidas
Título Original: The Virgin Suicides
Escritor: Jeffrey Eugenides
Ano de Publicação: 1994
Editora: Rocco (Selo L&PM)
Páginas: 206

Em As Virgens Suicidas, um narrador do qual nunca chegamos a conhecer o nome relata fatos ocorridos durante sua adolescência em um subúrbio americano. A principal atração da vizinhança é a família Lisbon, composta por um pai, uma mãe e cinco filhas de beleza impressionante. Logo nas primeiras páginas o leitor é informado do suicídio de todas as cinco meninas e convidado a tentar compreender, junto com o narrador, as causas dessa tragédia.

As Virgens Suicidas, apesar de sua temática polêmica e trágica, nunca se torna melodramático ou triste, já que o narrador da história, desde o início, fala dos suicídios com uma frieza técnica, estando mais interessado em levar o leitor para um caminho investigativo, e não sentimental. O livro é um relato quase obsessivo do dia a dia das meninas, permeado por referências a provas colhidas ao longo dos anos: um diário, fotos, objetos pessoais das garotas, depoimentos, trabalhos escolares, etc. Todos esses elementos contribuem para que o livro por vezes se assemelhe a um romance policial que, ao invés de recontar um homicídio, reconta suicídios.

O grande mérito de As Virgens Suicidas está em sua técnica narrativa. A história da família Lisbon só chega até o leitor de forma fragmentada, já que o narrador teve muito pouco contato com as meninas ou com seus pais. O narrador é muito pouco confiável, já que é um adolescente fascinado pelas Lisbon. Por vezes, esse narrador deixa de ser apenas um adolescente e se torna um grupo de adolescentes igualmente obcecado pelas garotas. O pronome do narrador varia, portanto, entre "eu" e "nós". O leitor é um voyer que acompanha os fatos pela ótica desses meninos que são vizinhos das Lisbon, então são frequentes menções a luzes que se acendem e se apagam na casa, descrições do estado da fachada e do gramado da casa dos Lisbon e visões de silhuetas em telhados e janelas. Até mesmo na escola o contato entre as Lisbon e os garotos é mínimo, o que faz com que as meninas sejam muitas vezes descritas como seres mitológicos, capazes de desaparecer em uma esquina sem deixar pistas.

Contudo, apesar de seus méritos narrativos e técnicos, As Virgens Suicidas nunca se aprofunda em sua temática. A depressão, por exemplo, nunca é trabalhada. Cada leitor chegará ao final do livro com uma interpretação diferente do porquê dos suicídios. Há apenas indícios: o ambiente opressor e religioso em que as Lisbon viviam, a passividade do pai, o rigor da mãe, a segregação social... O escritor não tem a intenção de apresentar respostas e frequentemente ironiza aqueles que, ao longo da narrativa, tentaram encontrá-las. Todas as explicações apresentadas para o suicídio das Lisbon pelos personagens do livro - regime capitalista, fatores biológicos, alto grau de cobrança com relação aos jovens, egoísmo - são logo em seguida descartadas, o que torna clara a intenção do escritor de deixar a questão em aberto. 

Fica a pergunta: essa história foi contada com que propósito? É inegável o talento para a escrita de Jeffrey Eugenides, mas retirados os méritos técnicos dessa obra, sobra apenas uma história vazia e superficial, de personagens que são apenas sombras do que de fato foram (ou poderiam ter sido). Como esse foi o primeiro livro escrito por Eugenides e é sem dúvida um romance de formação, talvez o propósito do livro seja de fato apenas explorar a escrita. As Virgens Suicidas é um livro sobre cinco lindas meninas que suprimiram suas próprias vidas. O que ficou, ao final, foi essa imagem e nada mais.    

Nota no Skoob: 3 de 5.

P.S. O filme de estreia da diretora Sophia Coppola, de 2000, foi inspirado nesse livro. É um filme excelente, que recomendo para todos que gostam do estilo da diretora.

Vídeo no YouTube:





  

13 comentários:

  1. Eu gostei bastante desse livro, o filme não me impressionou muito, mas sem dúvida ajuda a entender muitas passagens do livro que as vezes parece mais a exploração de um ponto de vista de uma pessoa do que algo mais próximo ao entendimento de todos. Achei que as adolescentes ficaram esteriotipadas.

    O suicídio é um tema que muito me atrai e por isso eu achei que a intenção do autor era justamente a de mostrar como os jovens banalizam esse ato e também a vida, como se depois fosse fácil voltar e desfazer o acontecido. A vida delas era muito plástica, viviam sob o domínio de pais que não sabiam como educar meninas, a mãe muitas vezes era submissa e fingia que não via o que estava acontecendo.

    Não havia diálogo, todos pareciam muito estranhos uns aos outros e havia uma solidão interior muito grande. Faltavam referências de vida, de experiências dos outros, porque elas eram criadas sob uma redoma de falsa proteção e quando tiveram permissão para sair não sabiam lidar com a liberdade.

    Todos os sentimentos, medos e incertezas próprias dessa época estão presentes no livro, do ponto de vista das meninas e dos meninos que narram a história. Por isso, como todos eram muito jovens, essa questão de discutir a depressão fica em outro plano, eles precisavam falar, colocar pra fora todos aqueles acontecimentos para poder entender como lidar com a realidade, com a vida, com o vazio que toma conta dos jovens,,,

    Beijos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Flávia! =D
      Não é que eu não tenha gostado do livro... No fim das contas eu achei o livro bom e dei três estrelas. Eu só achei ele um pouco superficial. Suicídio é um tema difícil e sério, mas eu senti que ele ficou sem segundo plano no livro. Nem mesmo ficou claro que se os suicídios decorreram desse "vazio que toma conta dos jovens", como você colocou. Não temos dados suficientes para afirmar isso e os próprios garotos reconhecem que nunca entenderam o que levou as Lisbon ao suicídio. As interpretações ficam por nossa conta...
      Quanto a eles serem muito jovens e precisarem falar, colocar para fora, o fato de a história estar sendo contada muitos anos depois deveria ter colocado as coisas em perspectiva, não? Quem narra a história já está idoso afinal...
      Beijo!

      Excluir
  2. Olá, Eduarda!
    Ao contrário de você, gostei bastante do livro, embora tenha dado nota similar à sua.
    Creio que, mais que resolver o mistério dos suicídios, o livro trata dessa obsessão, do efeito do mistério nas pessoas ao redor, no narrador, nos meninos. Faz sentido que os personagens sejam sombras, porque isso reforça esse sentimento de inacessibilidade. E, por isso, ele não tinha como aprofundar a questão da depressão. Embora eu tenha notado que ele se esforçou em esboçar uma contextualização estatística sobre suicídios. O livro me instigou, eu também queria saber, eu também ficava perturbada com as ações imprevisíveis.

    Beijinhos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acho que você tem razão, Aline. O foco do livro realmente é a obsessão dos vizinhos, o efeito que o mistério tem sobre eles. Até mesmo aquela vizinha grega inválida (não lembro o nome) encontra tempo e vontade de especular. Talvez a intenção do escritor seja fazer com que a gente sinta o que os vizinhos sentiam. Mas eu, como leitora, não queria ser apenas uma vizinha observadora; eu queria saber mais, eu queria sentir mais, então terminei o livro com uma sensação de vazio. Eu gostei do livro, mas esperava mais, sabe?
      Beijo!

      Excluir
  3. Esse livro está na minha lista de leituras.
    Espero lê-lo em breve.
    Resenha ótima!
    Beijinhos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Mariana! =D
      As Virgens Suicidas está na lista de Rory Gilmore, o que é só mais um incentivo para a leitura ; )
      Beijo!

      Excluir
  4. Quero muito ler este livro mas com a capa mais nova( penso que é a mais recente... aquela que tem os pezinhos...). Espero le-lo em breve, segui e se quiseres dá uma olhada no meu blog http://diariosdeumadesconhecidacomilona.blogspot.pt/
    Beijinhos ♥

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pela visita! =D
      A capa da Companhia das Letras é realmente muito mais bonita, mas esse eu comprei na banca de revistas por menos de 10 reais, então valeu a pena ; )
      Beijo!

      Excluir
  5. Será um raro caso de filme melhor que livro??? Eu, particularmente, acho que a beleza única com que Sofia Coppola mostra a depressao nesse filme é bem dificil de captar em páginas... Mas n fiquei afim de ler o livro naum, entao dps vc me conta! =D

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Na minha humilde opinião o filme é sim melhor que o livro, mas muita gente discorda, viu? Para mim Sophia Coppola deu ao livro justamente o que eu senti falta: profundidade. Ela trabalhou o tema com muita sensibilidade e delicadeza, o que não acontece no livro, em que a depressão fica em segundo plano. O foco mesmo é a obsessão dos meninos com as Lisbon, que eu sinceramente não achei tão interessante. Enfim, tudo que me atraiu no filme (as meninas, a vida delas, o que levou elas ao suicídio) no livro é explorado de forma superficial.
      Mas acho que vale a pena você ler porque muita gente ama esse livro e considera um de seus favoritos. Quem sabe você está nessa categoria?
      Beijo!

      Excluir
  6. HUmmm...
    Triste... Um livro de apenas 5 virgens que tiraram suas próprias vidas... superficial e nada mais...
    Enfim, romance de formação é isso aí... Mas talvez eu escolha ler os outros livros e não esse de formação...rs
    Bjs, Lu
    http://resenhasdalu.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Luiza, acho que você devia ler As Virgens Suicidas de qualquer forma porque muita gente adora esse livro.
      No fim das contas, leitura é uma questão de gosto pessoal e opinião.
      Beijo! =D

      Excluir
  7. Duda, como é bom ( e feliz) encontrar alguém com a mesma opinião da gente ao terminar de ler um livro. E, especialmente, quando este livro é tão amado por tantos. Eu concordo com você em todos os aspectos citados anteriormente. Acrescentaria ainda que faltou empatia com essas irmãs ( não gostei de nenhuma) e achei a narrativa por vezes muito entediante. Não sei se lerei mais obras do autor.
    Abraços.

    ResponderExcluir