sexta-feira, 13 de junho de 2014

A Casa dos Espíritos, Isabel Allende


Título: A Casa dos Espíritos
Título Original: La Casa de los Espíritus
Escritora: Isabel Allende (Chile)
Ano de publicação: 1982
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 448

A Casa dos Espíritos é o livro mais famoso da escritora chilena Isabel Allende, que afirma ter buscado inspiração em sua própria família para criar essa obra. O livro conta a história da família Trueba no Chile dos anos 20 até os anos 70, quando acontece o golpe militar que depõe Salvador Allende e coloca Augusto Pinochet no poder, iniciando a Ditadura Militar chilena.

A Casa dos Espíritos é um livro que tem alguns aspectos positivos e alguns aspectos negativos, podendo ser considerado apenas bom quando comparado a outros livros que contam sagas familiares, a exemplo dos infinitamente superiores Cem Anos de Solidão, Viva o Povo Brasileiro e A Gloriosa Família. Comparações à parte, o livro tem grande importância histórica por contar uma história que é a história de boa parte dos países da América Latina: a das Ditaduras Militares.

A escrita de Isabel Allende é fluida e poética na medida certa, nunca soando artificial ou exagerada. A escritora revela-se uma boa contadora de histórias, valendo-se de um realismo fantástico que mistura histórias reais retiradas de suas memórias de infância com elementos fantasiosos. Outro ponto positivo do livro é a transição natural entre as três gerações apresentadas, já que os personagens antigos e os personagens novos convivem naturalmente, sendo seu surgimento ou desaparecimento muito bem trabalhado pela escritora. Os acontecimentos históricos são sem dúvida o ponto alto da narrativa, já que neles é centrada toda a carga emocional do livro e a crítica de Isabell Allende a uma política oportunista e cruel.

A maior fraqueza do livro reside, contudo, em seus personagens. Com algumas poucas exceções (e penso, aqui, em Clara), desfilam pela história caricaturas excêntricas. As motivações dos personagens e seus sentimentos nunca são aprofundados. As histórias de amor em especial são sempre mal explicadas e surgem à primeira vista ou desde a infância, como se tivessem sido escritas nas estrelas. O realismo fantástico é utilizado por Isabel Allende para tornar esses personagens minimamente interessantes, a exemplo de Rosa, cujo única característica marcante é sua beleza de Sereia, seus cabelos verdes e olhos dourados. Mas nem assim Isabel Allende é bem sucedida, já que o que sobra em excentricidade fantasiosa em seus personagens falta em personalidade, o que torna a história maçante e tediosa quando se dedica a explorar esses personagens que não sofremos nem um pouco em deixar para trás. 

Apesar de ser considerado por muitos um livro feminista, A Casa dos Espíritos parece indeciso com relação ao tema, já que a despeito de apresentar mulheres fortes faz com que suas vidas girem ao redor de seus interesses amorosos. Dependentes financeiramente de Esteban Trueba, as três principais mulheres da trama suportam humilhações, violência e tortura psicológica, mas nunca abandonam essa imponente figura patriarcal. Sua revolta é interna, silenciosa e paciente, ainda que Allende insista em considerar essas mulheres exemplos de força. 

Apesar de seus diversos problemas, A Casa dos Espíritos é um marco para a literatura latinoamericana, tendo sido responsável por transformar Isabel Allende é uma escritora aclamada e bem sucedida. É um livro que vale a pena ser lido mais pelo que representa do que pelo que é

OBS: Há um filme de 1993 baseado no livro, com Meryl Streep, Winona Ryder, Antonio Banderas, Gleen Close e Jeremy Irons, que é excelente. O roteiro definitivamente soube aproveitar só o que o livro tem de melhor.
     
Nota no Skoob: 3 de 5.

Vídeo no YouTube:

     









12 comentários:

  1. Já li Paula, da autora. Adorei o estilo dela e estou em busca de também ler A Casa dos Espíritos e Inês de minha alma.

    Também estou fazendo o desafio Rory Gilmore. :D
    ouseviver.wordpress.com

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    1. Eu cortei mais um livro da lista de Rory Gilmore, mas infelizmente não gostei muito desse A Casa dos Espíritos. Já me indicaram Retrato em Sépia e Meu País Inventado. Talvez eu dê mais uma chance para Isabel Allende...
      Vou acompanhar seu progresso no desafio!
      Beijo!

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  2. Oi Eduarda, tudo bom? Eu já vi o filme estrelado por Meryl Streep e também achei sensacional. Você falou que os personagens do livro são sem personalidade e isso não acontece no filme que, além do brilhantismo costumeiro de Streep, conta com as atuações impecáveis de Jeremy Irons e Glenn Close. O filme me emocionou muito e, por isso, mesmo sem ter lido o livro, acredito que ele seja muito bom.
    Beijos

    blogfalandodelivros.blogspot.com.br

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    1. O filme é muito bom mesmo, Eva! =D Eu adoro. Ele soube aproveitar só o que o livro tem de melhor, sem falar que as brilhantes atuações deixaram os personagens mais interessantes do que eles realmente são. Para mim, é um daqueles raros exemplos em que o filme supera o livro...
      Beijo!

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  3. Eu li esse livro logo na época em que o filme foi lançado e não consegui me apegar, gostei mais do filme. A partir daí fiquei com preguiça de ler qualquer coisa da escritora, realmente não sei se vou conseguir ler mais alguma coisa dela.

    Beijos!

    P.S.: Começo hoje Reparação.

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    1. Eu estou igual a você, Flávia. Não sei se vou conseguir ler mais alguma coisa dela... Fico frustrada quando gosto mais do filme do que do livro porque a gente procura o livro justamente para se aprofundar na história e no universo, né?
      Isabel Allende não é uma escritora ruim de jeito nenhum, mas tem tanta coisa mais interessante na minha fila de livros.
      Beijo!

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  4. Oi! :)

    Pena esses pontos negativos. Deu pra entender bem os motivos de você não ter apreciado tanto a leitura. O livro me atrai pelo contexto histórico. Talvez um dia eu leia (até porque participo do desafio da Rory! rs.)

    Beijos, boas leituras!
    Amanda,
    Lendo & Comentando

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    1. O contexto histórico é a parte mais interessante do livro, Amanda. É um livro bom, mas me decepcionou porque eu esperava mais dele, especialmente depois de ter assistido aquele filme maravilhoso.
      A vantagem do Desafio de Rory é que a gente pode ir empurrando alguns livros para o final, né? Hahahahahahaha.
      Beijo!

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  5. Oi Eduarda, tudo bem?
    Poxa, o último livro da Isabel Allende também está sendo muito criticado e, por causa disso, fiquei com um pé atrás quando vi que esse livro era dela.
    Apesar dos meus receios, acho que daria sim uma chance para o livro.

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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    1. Eu nem sabia que estava sendo criticado, Luara... Bom saber. A Cláudia, do canal "A Mulher que Ama Livros" disse gostou, apesar de não ter amado.
      Eu sempre acho importante dar uma chance para as coisas antes de criticar. E é um livro importante historicamente, então no fundo vale a pena.
      Beijo!

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  6. Oi!
    Ah, quero ler esse livro!
    Mas fiquei um pouco relutante e ao mesmo tempo mais curiosa por causa da resenha...
    "ser lido mais pelo que representa pelo que é"...
    BJs, Lu
    http://resenhasdalu.blogspot.com.br/

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    1. No fim das contas não me arrependi de ter lido, Luiza. O livro é importante historicamente e Isabel Allende é uma boa escritora. Espero que você dê uma chance para ela e tire suas próprias conclusões.
      Beijo!

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