segunda-feira, 26 de maio de 2014

Ubik, Philip K. Dick



[Lido com a Tati, do blog No País das Entrelinhas]

Título: Ubik
Título Original: Ubik
Escritor: Philip K. Dick (Estados Unidos)
Ano de Publicação: 1969
Editora: Aleph
Páginas: 238
Gênero: Ficção Científica

O local é a Terra. O ano é 1992 (futuro, considerando a data em que o livro foi escrito). Dois grandes tipos de corporações competem no mercado de consumo: de um lado, as que empregam homens com talentos psíquicos capazes de fazer espionagem industrial e empresarial e, de outro lado, as que empregam homens com contra-talentos, capazes de neutralizar essa espionagem. Em Ubik acompanhamos o trabalho de uma das melhores dessas corporações de contra-talentos, chamadas agências de prudência. Contudo, quando essa empresa recebe uma proposta de trabalho irrecusável, mergulhamos em mundo muito mais complicado do que imaginávamos.

Isso é tudo o que eu posso comentar sobre Ubik sem fazer importantes revelações sobre o enredo. Ubik é um livro extremamente difícil de ser resenhado para quem não o leu. Se você se interessou pela sinopse, leia e só depois volte aqui, já que um dos grandes atrativos do livro é tentar compreender todas as ideias que Dick apresenta.

Ubik explora três grandes temas: o consumo, a vida após a morte e a inconstância da realidade. Esta é uma ficção científica mais voltada para a filosofia do que para a ciência propriamente dita. Ubik leva ao extremo o questionamento da realidade, tornando-a tão relativa que chegamos ao final do livro sem saber o que era real e o que não era. O leitor é tomado pela mesma sensação de desespero dos personagens, já que nunca sabe ao certo o que está acontecendo. E nada disso é um acaso, já que a intenção de Philip Dick é justamente desestabilizar seu leitor. 

As críticas aos excessos da sociedade consumo são muito fortes em Ubik, mesmo que mascaradas por um tom cômico. Uma porta de um apartamento que se recusa a abrir sem moedas pode parecer engraçada à primeira vista, mas revela um assustador grau de dependência do ser humano com relação ao dinheiro. No mundo criado por Dick em Ubik nada é de graça, nem mesmo abrir a porta da geladeira. E os personagens estão tão habituados a esta realidade que criticam aqueles que não conseguiram se adaptar a ela, como é o caso de Joe Chip, o personagem principal.

A naturalidade com que as pessoas se apegam à tênue consciência de seus entes queridos já falecidos também causa estranheza. Há apenas um momento do livro em que Runciter questiona se não seria melhor que as pessoas simplesmente morressem de uma vez, sem sofrer uma gradual degradação da consciência. O egoísmo de manter alguém semivivo nunca passa pela mente dos personagens, já que essa é uma prática comum na sociedade em que eles vivem. 

Philip Dick deliberadamente exagera em Ubik muito dos usos e costumes do mundo em que vivemos para demonstrar como eles são, em muitos aspectos, absurdos. Não é, portanto, nem um pouco surpreendente que a solução para todos os problemas venha na forma de um bem de consumo: Ubik. O fato de esse bem de consumo estar em todos os lugares (de ser dotado de ubiquidade), tampouco causa estranheza, dado o grau de dependência que essa sociedade humana criou em relação ao consumo. Por fim, Ubik é equiparado a Deus. O consumo torna-se onipresente e onipotente.

Ubik é um convite à crítica e ao questionamento, mas só é indicado para leitores que sabem que não existem respostas prontas e acabadas para perguntas complexas. 

Nota no Skoob: 4 de 5.

Vídeo no YouTube:




6 comentários:

  1. Incrível Eduarda, análise perfeita e sucinta.
    O que mais tem me encantado em Philip K. Dick é justamente esse questionamento da realidade que ele faz o tempo inteiro, que ultrapassa as fronteiras da ficção científica como um gênero que cria um universo paralelo, mas faz eu me questionar o tempo todo sobre as realidades da minha imaginação. E foi isso que Ubik fez comigo, porque já percebi que o barato de ler um livro assim não é saber o que está acontecendo de verdade ou não, mas pensar por que tudo não pode estar acontecendo ao mesmo tempo?
    Muito interessante esse aspecto que você colocou sobre o egoísmo de manter alguém semivivo, não tinha pensado nisso, talvez até sendo egoísta como os personagens nesse ponto. E também as pessoas eram mantidas nesse estado para proveito pessoal e mercadológico de quem estava vivo... Não propriamente por uma ligação afetiva ou coisa que o valha.
    Eu fiquei o livro inteiro intrigada com as citações a respeito de Ubik no começo de cada capítulo, só no último me veio tudo como um soco no estômago e essa foi uma sacada genial do Philip.
    Vou tentar escrever meu post o quanto antes, muito inspirada no seu!!!
    Parabéns mesmo!
    Beijo enorme!

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    1. Sucinta, Tati? Eu achei o post enorme! Hahahahahahaha. Tentei cortar um parágrafo, mas fiquei com dó... As pessoas parecem preferir posts pequenos, mas eu não sou dotada desse talento. Odeio superficialidade.
      Adorei isso que você disse: "por que tudo não pode estar acontecendo ao mesmo tempo?". É exatamente essa é a sensação que eu tive lendo o livro. Chegou uma hora em que eu estava só curtindo a viagem, sabe? Deixei para lá a questão da verdade, do real, porque percebi que não era relevante. É por isso que acho que as pessoas deviam ler Ubik sem ler resenhas antes. Foi gostoso chegar nesse ponto sozinha.
      Eu fiquei muito chocada com a postura de Runciter em relação a Ella. E fiquei mais chocada ainda quando percebi que todos consideravam Ella uma co-participante das decisões da empresa. Nem depois de mortas as pessoas tem sossego nesse assustador mundo consumista de Ubik.
      O final foi sensacional, né? Eu também tomei um soco no estômago.
      Vou esperar ansiosamente por sua resenha, Tati!
      Beijo!

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  2. Pretendo ler em breve e por isso não li sua resenha, mas assim que ler volto aqui para ver sua opinião. Mas, percebi que Philip Dick é viciante. Tomara que eu goste tanto assim.

    Beijo.

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    1. Depois me conta o que achou, Flávia! Mas leia de coração aberto, viu? Aliás, leia de mente aberta.
      Beijo! =D

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  3. Gostei muito de Ubik. Outro livro bom Philip K. Dick é VALIS.

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    1. Fernando, alguém comentou comigo que VALIS é um pouco difícil comparado com as outras obras de Philip K. Dick. O que você acha?
      Beijo!

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