quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Ratos e Homens, John Steinbeck


Título: Ratos e Homens
Título Original: Of Mice and Man
Escritor: John Steinbeck (Estados Unidos)
Ano de Publicação: 1937
Editora: L&PM Pocket
Páginas: 144

John Steinbeck ganhou o prêmio nobel de literatura em 1962. Como eu tenho um fraco por ganhadores do nobel desde que me apaixonei por Gabriel García Marquez, sempre tive a curiosidade de ler pelo menos dois livros de Steinbeck: “As Vinhas da Ira” e “Ratos e Homens”. “As Vinhas da Ira” é certamente o livro mais famoso do escritor e inclusive foi transformado em filme em 1940, pelo famoso diretor John Ford, tornando-se um clássico do cinema. "Ratos e Homens" também virou filme em 1939. “Ratos e Homens” passou na frente na minha lista de leituras, contudo, quando a Editora L&PM lançou uma edição de bolso por menos de R$ 20,00. Difícil resistir ; )

Ratos e Homens é livro que aborda diversos temas relevantes e imagino que cada leitor tenha sua própria interpretação acerca do que o livro pretende dizer. Essa sem dúvida é uma das grandes qualidades dessa obra, que se destaca das intenções do escritor e ganha vida própria, a depender de quem a lê, de quando ela é lida e onde ela é lida. Para mim, esse é um livro sobre a amizade, a solidão e a infinita capacidade humana de sonhar, perpassando por um crítica à sociedade americana decadente da década de 30, que viu o sonho americano sucumbir às crises econômicas.

O livro conta a história de George e Lennie, que trabalham de rancho em rancho na Califórnia da década de 30. O sonho dos dois é ter um rancho próprio, ainda que pequeno. Enquanto George é pequeno, inteligente, intuitivo e prático, Lennie é grande, bobo e infantil, beirando a oligofrenia. A despeito dessas diferenças, estabelece-se entre esses dois homens um verdadeiro companheirismo. A princípio, pensamos que é George quem cuida de Lennie, mas não demoramos a perceber que Lennie, por outro lado, faz com que George sinta-se esperto e capaz, além de manter vivos os seus sonhos de uma vida melhor.

Lennie representa a infância, a inocência, os sonhos que resistimos a abandonar. George representa a idade adulta, mais prática e cautelosa. Um depende do outro para sobreviver nesse mundo hostil e durante todo o livro vemos a relação dos dois causar surpresa em todos, já que os rancheiros estão habituados a uma vida de solidão, desapego e mera sobrevivência. Steinbeck deixa claro que a vida desses rancheiros resume-se a gastar todo o dinheiro que ganham em bebida e prostitutas, já que a crise econômica que assola os Estados Unidos não permite mais do que isso. Como esses trabalhadores não passam muito tempo em uma fazenda, não constroem laços de amizade e não constituem família, chegando à velhice sem nada que lhes pertença. A chegada dos dois amigos na fazenda onde a história se passa é como um sopro de vida para muitos, que se espantam ao ver que ainda existem pessoas que almejam uma vida melhor.

Para quem ainda não leu o livro, recomendo que pule o próximo parágrafo, já que o final do livro é o ponto alto da narrativa e merece ser lido sem qualquer spoiler.

- INÍCIO DO SPOILER -
A cena final de Ratos e Homens é devastadora, já que vemos a inocência, a ingenuidade, a infância e os sonhos serem mortos, numa clara representação do fim do sonho americano. E a pior parte é que todos nós entendemos exatamente o porquê de aquilo ter acontecido e que não havia outra alternativa. Todos nós vemos naquela cena a morte de nossos sonhos pelas circunstâncias da vida. 
- FIM DO SPOILER -

Além de ter uma excelente história, “Ratos e Homens” é escrito com uma linguagem extremamente eficiente, mas ainda assim bonita. Nesse sentido, a linguagem seca e certeira me lembrou muito o Graciliano Ramos de “Vidas Secas”. A fala dos personagens é a fala dos rancheiros norteamericanos, que a tradutora Ana Ban dessa edição de bolso da L&PM transformou de forma acertada na fala dos trabalhadores caipiras brasileiros. A narrativa é realista, concisa e descritiva no ponto certo. A lagoa descrita logo na primeira cena do livro, por exemplo, parece tão real que imagino que ela tenha sido retirada das memórias do escritor.

Para mim, foram 142 páginas de pura perfeição.



7 comentários:

  1. Assim da ate vontade de ler. Parabéns amiga!!! Você é simplesmente demais, sou sua fã. :)

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  2. Esse final foi ao mesmo tempo surpreendente de tanto que a leitura me envolveu e arrebatador, porque acho que mesmo dentro de sua deficiência de entender as coisas, Lennie sabia intuitivamente o que estava acontecendo, tanto que pediu a George que contasse a ele a história que mais gostava de ouvir. Parecia que ele finalmente iria tornar o seu sonho realidade e o George tomou a atitude correta, foi a libertação do sofrimento de uma pessoa inocente. Lindo!

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    1. Eu concordo com você, Flávia. É como se Lennie soubesse... A atitude de George demonstrou que realmente amava Lennie.

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  3. Eduarda, podemos até transferir as ideias do autor para nossa realidade atual, não? Algumas pessoas tendem a achar que qualquer pessoa pobre pode "vencer na vida", contanto que trabalhe, e esse é um exemplo de que, quando não há uma realidade favorável, não há saída, os sonhos só servem para encarar mais um dia. Um livro lindo mesmo, pequeno, porém cheio de questões importantes. Beijinho! ;-)

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    1. Exatamente, Lua! Steinbeck questiona essa injusta ideologia americana baseada no mérito, que parte do pressuposto de que todos tem oportunidades iguais.
      Sua sugestão de leitura de As Vinhas da Ira está anotada, viu?
      Beijo!

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  4. Já o encomendei! "Of mice and men" é também uma banda relativamente recente que se deve ter inspirado neste clássico, daí também o meu interesse, ansioso por ler...

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