segunda-feira, 22 de junho de 2015

Resenhe, se puder: Três Vidas, de Gertrude Stein


Título: Três Vidas
Escritora: Gertrude Stein (Estados Unidos)
Ano de Publicação: 1909
Editora: Cosac Naify
Páginas: 241
Nota: ♥ ♥ ♥


Em "Três Vidas", da escritora norte-americana Gertrude Stein, somos apresentados a três diferentes mulheres, que dão nome aos três contos que compõem o livro: "A boa Anna", "Melanctha" e "A gentil Lena".

Todas a histórias acontecem em Baltimore, nos Estados Unidos. As protagonistas têm em comum a pobreza e a exclusão social.  Anna e Lena são imigrantes alemãs que ganham a vida como criadas e Melanctha é uma mulata com um histórico familiar complicado que vive de pequenos trabalhos informais. As três sofrem preconceito e uma grande opressão social, seja por conta de sua sexualidade (Anna é homossexual e Melanctha é bissexual), seja por conta de sua origem pobre. As três também encontram finais semelhantes.

Se falar sobre "Três Vidas" já é complicado, então fazer uma resenha sobre ele é quase uma tarefa impossível. Mas vou explicar melhor o porquê disso (ou vou tentar, pelo menos).

Lembram dessa poesia Carlos Drummond de Andrade?
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Pois é. A frase mais famosa de Gertrude Stein segue esse mesmo caminho:
Rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa.
Do mesmo jeito que é impossível interpretar essa poesia de Drummond sem compreender o contexto em que ela foi escrita, por que ela foi escrita e por quem ela foi escrita, é impossível interpretar "Três Vidas", principalmente o conto "Melanctha", sem compreender que Gertrude Stein é um dos grandes nomes do Modernismo e que uma de suas características marcantes é a revolução da forma literária.

Assim, encontramos no texto de Gertrude Stein frases como: "Melanctha tentara assumir o vício, mas não tinha interesse suficiente" (pág. 87) e "Melanctha tentara beber, mas não tinha interesse suficiente" (pág. 88); "Interessava-se pela vida de seus companheiros de cor" (pág. 91) e "Gostava de ajudar seus companheiros de cor" (pág. 73). Essa repetição das frases, com pequenas variações, permeia todo o livro e um leitor desavisado talvez possa achar que está ficando louco. Gertrude, com sua escrita, questiona o próprio ato de escrever. Os artifícios da linguagem e o impacto das frases saem de cena e fica apenas a ideia, o retrato, a essência.

Em "Três Vidas" a forma parece ter mais importância que o conteúdo. Gertrude preocupa-se tanto com o questionamento da linguagem que as histórias contadas ficam em segundo plano. O que o leitor encontra, portanto, é um livro formalmente incômodo e cuidadosamente estripado de emoções. Confesso que essa leitura foi um exercício curioso, mas não muito interessante.  

5 comentários:

  1. Você disse bem, Gertrude Stein se preocupava muito com a forma e menos com o conteúdo, por isso teve muitas dificuldades enquanto estava viva de publicar seus livros, acho que ela passou a ter essa obsessão pela estética por ser amiga íntima de de Picasso, Cézanne, Matisse entre outros. Dela, eu li A Autobiografia de Alice B. Toklas e amei. Tem frases que se repretem muito, mas como ela retrata muito bem a Paris de sua época e sua convivência com tantos escritores e artistas que se tornaram célebres ou já eram naquela época, que o livro é ótimo. Sem contar, na figura de sua fiel companheira Alice Toklas. Um livro imperdível.

    Beijos!

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    1. Flávia, seu comentário foi excelente para mim! Já estava meio desanimada para ler os outros livros dela que tenho aqui (também da coleção Mulheres Modernistas), mas agora estou mais tranquila. Acho que vou gostar muito desse contexto histórico da Autobiografia de Alice B. Toklas. Aquele filme do Woody Allen, Meia Noite em Paris, é um dos meus favoritos justamente por conta disso. E dessa mesma época quero ler também o do Hemingway: Paris é uma Festa.
      Beijo! ^_^

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  2. Deve ter sido uma leitura um tanto diferente. Não sei se seria apropriada para o meu momento de agora, em que procuro algumas coisas mais leves e mais gostosas de ler.
    Mas anotei a dica. É sempre bom diversificar um pouco.

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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    1. Luara, definitivamente "Três Vidas" não é leve e nem gostoso de ler. Risos. A leitura dele só vale pelo contexto histórico em que a obra está inserida. Achei interessante compreender melhor o movimento modernista, mas confesso que esse livro não é daquele tipo que mudou minha vida.
      Beijo! ^_^

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  3. http://julianbluff.blogspot.com.es/2016/02/si-lo-dice-gertrude-una-rosa-es-una-rosa.html

    Gertrude Stein explica a Gertrude Stein.

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