terça-feira, 26 de maio de 2015

Frankenstein, Mary Shelley


Título: Frankenstein, ou o Prometeu Moderno
Título Original: Frankenstein, or the Modern Prometheus
Escritora:  Mary Shelley (Reino Unido)
Ano de Publicação: 1818
Editora: Hedra
Gênero: Gótico/Horror/Suspense
Páginas: 268
Nota: ♥ ♥ ♥ 


O livro conta a história de Victor Frankenstein, um jovem suíço de família abastada que tem grande interesse pelas ciências naturais desde a infância. Os alquimistas, em especial, o fascinavam. Já mais velho, estudando na Universidade de Ingolstadt, na Alemanha, ele descobre o segredo por trás da criação da vida. Seu primeiro experimento é uma criatura formada por partes de vários corpos humanos. O que Frankenstein não imaginou é que sua criatura tivesse a grotesca aparência de um monstro.

Frankenstein é hoje um clássico da literatura de terror e um notório representante do estilo gótico. É considerado o primeiro livro de Ficção Científica da História. Junto com "Drácula" e "O Médico e o Monstro" ele forma a tríplice aliança do terror. Sua importância para a cultura pop é tamanha que o monstro que hoje permeia o imaginário popular - verde, lento e com parafusos na cabeça - é o retratado por Boris Karloff no filme de 1931, e não o do livro - veloz, amarelado e de olhos cinzentos. 

Mary Shelley escreveu Frankenstein quando tinha apenas dezenove anos de idade. É seu primeiro e mais famoso romance. O livro está inserido no contexto do gótico, movimento literário que levou o foco para o indivíduo: seus dramas, seus desejos, seus sentimentos. Os temas comuns ao gótico são o desespero, o medo, o inexplicável e o obscuro. Aqui temos um pouco de tudo, mas o que torna Frankenstein tão atual é o seu principal tema: as possíveis consequências do desenvolvimento da ciência

A escritora acompanhou o crescimento da Revolução Industrial e, assim como muitas pessoas durante o Século XIX, preocupou-se com sua falta de limites. Ironicamente, em pleno Século XXI, continuamos tendo exatamente essas mesmas preocupações. Muitos cientistas lutam pela aprovação de leis que criem barreiras ao desenvolvimento da inteligência artificial e a literatura de ficção científica enfrenta o chamado "Complexo de Frankenstein", que é o medo de que as criaturas (hoje, robôs) se voltem contra seus criadores. Não é à toa que Isaac Asimov ficou famoso por criar, no livro "Eu, Robô", três leis que protegem os humanos dos robôs. 

O monstro de Frankenstein assusta justamente porque não pode ser controlado. E isso porque a relação entre o Criador e sua Criatura é essencialmente uma relação de poder. Frankenstein não cria seu monstro para que ele tenha vida própria, independência; Frankenstein cria algo porque pode, sendo sua criatura um objeto, e não um sujeito. Sintoma disso é o fato de a Criatura sequer ter um nome. Daí vem o subtítulo do livro: "ou o Prometeu Moderno". Prometeu, na mitologia grega, roubou o fogo dos Deuses para que os humanos pudessem dele desfrutar. Sua punição foi severa: acorrentado a uma rocha, tinha seu fígado devorado por uma águia todos os dias, já que no dia seguinte seu fígado se regenerava. A mensagem é clara: desafie Deus e sofra as consequências. Não seria diferente com Frankenstein, que ao tomar para si o papel de Deus, enfrenta o terror e o medo, comparando-se muitas ao vezes ao próprio Lúcifer, o anjo caído, afirmando que "como o arcanjo que aspirou à onipotência, estou acorrendo ao inferno eterno".

Apesar de sua inegável importância histórica, a leitura de Frankenstein não é uma experiência de todo agradável. O ritmo é excessivamente lento e as situações frequentemente se repetem (a exemplo dos períodos de doença de Frankenstein), deixando o leitor impaciente, e por vezes irritado. Apesar de sua pequena extensão, o romance não é de leitura rápida, principalmente por conta de sua linguagem rebuscada, que exige do leitor mais concentração e foco. Os pontos altos do livro são, sem dúvida, os confrontos verbais entre o Criador e sua Criatura: 
Não caberá a mim, no entanto, a sujeição à mais abjeta escravidão. Não tardará a vingança contra tamanhas ofensas; se não posso inspirar amor, causarei medo - e sobretudo a você, meu arqui-inimigo e criador, jurarei ódio inextinguível. Tenha cuidado, pois cuidarei de sua destruição e não cessarei até que lhe apresente desolação tal que você se arrependerá de ter nascido.
Não escapará ao leitor moderno a ironia de que um dos personagens mais humanos do livro é justamente o que é constantemente chamado de demônio, monstro ou criatura. Nos identificamos com esse ser-objeto, cujos únicos desejos são apenas a liberdade e a independência, alicerces da sociedade burguesa. Não é coincidência que Frankenstein seja muitas vezes chamado de um romance burguês, já que aborda os principais medos da burguesia moderna.

Frankenstein é um clássico imperdível não por sua prosa, que não é das melhores, mas por suas ideias, que continuam atuais mesmo depois de dois séculos. A criatura de Frankenstein provoca medo, em menor grau, por sua aparência, mas, em um grau muito maior, pelo que ela representa.

Vídeo no YouTube:


     





   



  

6 comentários:

  1. Está na minha estante e quero ler em Outubro ou Novembro. Espero gostar um pouco mais. :)

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    1. Cláudia, eu gostei do livro pela ideias e pelo fato de ser um clássico. Só não gostei muito do ritmo narrativo, que é bem lento para o meu gosto pessoal. Mas ainda assim acho que vale muito a pena a leitura.
      Beijo! ^_^

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  2. Li esse livro já faz uns anos e penei bastante. Concordo com você que as ideias do livro são o que fazem ele valer a pena, porque o estilo narrativo meio que arruinou minha experiência :/

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    1. E o livro é tão pequeno, né? Também fiquei decepcionada com o ritmo lento dele. Mas as discussões que ele levanta são muito boas e muito atuais.
      Beijo! ^_^

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  3. Simplesmente adorei a resenha, tanto aqui no blog como lá no youtube! Espero que quando eu for ler veja os mesmos aspectos que você.
    Até mais!

    Juliano,
    www.diariodeumledor.blogspot.com

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