sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Lolita, Vladimir Nabokov


[Lido para o Fórum Entre Pontos e Vírgulas]

Título: Lolita
Título Original: Lolita
Escritor: Vladimir Nabokov (Rússia)
Ano de Publicação: 1955
Editora: O Globo (Folha de São Paulo)
Páginas: 319

Em Lolita, um personagem principal quarentão cujo pseudônimo é Humbert Humbert narra suas memórias em primeira pessoa, deixando claro, desde a primeira oportunidade, ser um pedófilo. O foco dessas memórias é sua paixão por Lolita, que tem apenas 12 anos de idade.

É extremamente difícil colocar em palavras todos os sentimentos provocados pela leitura de Lolita: nojo, asco, raiva, ódio, tédio e apatia são alguns deles. Humbert é sem dúvida alguma um personagem detestável, o que até ele mesmo admite para o leitor, descrevendo constantemente suas mãos como "patas", seus desejos como "instintos animalescos". E além de ser um pedófilo, Humbert é também neurótico, ciumento, possessivo e doentio. Eventualmente esquecemos sua personalidade grotesca por conta de observações espirituosas e comentários inteligentes, mas isso só dura uma fração de segundo. Esse é, portanto, um livro para ser lido a despeito de seu protagonista, que nem mesmo tem as características instigantes do anti-herói, já que está muito mais próximo de um paciente psiquiátrico.

Lolita, por outro lado, só é vista pelo leitor pelos olhos de Humbert, o que torna sua caracterização truncada e contraditória em diversos momentos. Se Lolita é uma criança ativa, alegre e inteligente em alguns momentos, em outros ela é um ser sexualizado, dissimulado e materialista. A única certeza que temos é a de Lolita é extremamente infeliz e reprimida, sujeita às torturas psicológicas e aos mecanismos de culpa e medo infligidos (e confessados) por Humbert. Nunca chega, contudo, a ficar clara a falta de consentimento de Lolita, que por vezes afirma ter sido "violada" e por vezes afirma que "Humbert não foi seu primeiro". A inocência e a sexualidade de Lolita, ambas atraentes para o problemático narrador da história, só chegam ao leitor de forma enviesada. No fim, Lolita é uma incógnita tão grande que se torna irreal e idealizada, o que tornou extremamente difícil, pelo menos para mim, qualquer sentimento de simpatia por ela, ou até mesmo de pena.  

A escrita de Nabokov é belíssima e só mesmo essa construção literária impecável me impediu de desistir da leitura no meio do caminho. Mas ainda assim há um excesso de descrições que tornam o livro cansativo em diversos momentos, principalmente quando Humbert gasta páginas e mais páginas descrevendo pormenorizadamente os hotéis e as cidades pelos quais passou.

Dos clássico que eu já li, esse foi o mais intragável. Infelizmente não extraí nenhum sentimento bom dessa leitura e até mesmo a injustiça da situação foi incapaz de me tirar do sério. Li contando as páginas e pensando em desistir a cada novo capítulo. Os personagens imorais do submundo não me incomodam, tanto que aprecio imensamente a obra de Dostoiévski, mas Lolita, além de não ter me conquistado pelos personagens, tampouco me conquistou pelo ritmo ou pela história. Ficou apenas uma reflexão: para que serve a ficção e a literatura? Eu não tenho essa resposta, mas intuitivamente sei que Lolita é para mim um tipo de ficção inócua e insossa.

Nota no Skoob: 2 de 5. 


10 comentários:

  1. Que bom que vc disse isso, pq acabei de tirar ele da lista! =D

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    1. Se não fosse pelo fórum, eu teria desistido, Sami. Terminei de ler porque as discussões lá são sempre boas, mesmo que o livro seja ruim.
      Beijo!

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  2. Como comentei lá no Goodreads, Eduarda, também achei esse livro incrivelmente chato.
    Lolita realmente é um mistério, mas independentemente disso não importa que tenha havido consentimento, afinal ela era uma criança e como tal não poderia prever as consequências do que fazia. Te espero lá no debate pra gente conversar mais.=)

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    1. É exatamente assim que penso, Lua. Pouco importa se ela consentiu ou não, se ela era sedutora ou não, se ele era pedófilo ou não. O que ele fez foi um crime imperdoável. É comum que crianças brinquem de seduzir, imitando adultos, mas isso não significa que elas compreendam o que estão fazendo. E sim, a cereja do bolo é que o livro é chatinho em muitos momentos...
      Beijo! Vou passar lá no fórum agora.

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  3. Em primeiro lugar, te dou parabéns pela resenha, muito bem escrita. Até hoje não consegui ler Lolita justamente por que acho muito difícil digerir um personagem pedófilo, mesmo quando sabemos que se trata de um doente psiquiátrico. O asco e a indignação provavelmente me acompanharam durante a leitura. Não fazia ideia de que Lolita era retratada dessa maneira, mas acho que é a forma perversa como todos os pedófilos enxergam suas vítimas. Contudo, pretendo ler e descobrir porque esse livro se tornou um clássico.
    Beijo!

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    1. Vou adorar conhecer sua opinião, Flávia. Algumas pessoas amaram, então continuo achando que a leitura vale a pena. Como todo bom clássico, as opiniões são as mais diversas.
      Beijo!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Ótima resenha! Já fazia um tempo que estava querendo ler Lolita, mas nunca tinha ouvido falar se era bom ou ruim. Acabei assistindo o filme, que achei horrível.


    Te indiquei a uma Tag, espero que goste!
    http://deliriosdaangel.blogspot.com.br/2015/01/tag-liebster-award.html

    Beijoos

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    1. Oi, Angélica! Sabe que eu achei o filme melhorzinho do que o livro? Eu só assisti o de Kubrick, mas sei que existem outras adaptações cinematográficas.
      Beijo! E obrigada por ter me indicado para a tag ; )

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  6. Eu estou me obrigando a ler este livro... simplesmente horrível... não porque fala de pedofilia, mas o estilo é chatíssimo, umas descrições enfadonhas por demais. Não sei quais os critérios pra se considerar um livro assim como clássico. Enfim, só estou me dando ao trabalho pq quero concluir e já me consumiu muitos dias.

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