sexta-feira, 25 de julho de 2014

A História Secreta, Donna Tartt


Título: A História Secreta
Título Original: The Secret History
Escritora: Donna Tartt (Estados Unidos)
Ano de Publicação: 1992
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 517

O que você faria se não precisasse trabalhar para sobreviver? Passaria seus dias no shopping? Viraria surfista? Assistiria todos aqueles filmes que sempre quis assistir e leria todos aqueles livros que sempre quis ler? Em A História Secreta, somos apresentados a um grupo de jovens que está exatamente nessa situação. Henry e Francis têm um fundo monetário considerável do qual sacam mensalmente uma mesada. Bunny vive de favores conseguidos com o nome de sua família. Camilla e Charles contam o apoio de seus avós. Todos estudam grego e antiguidades na Universidade de Hampden, no frio estado americano de Vermont. Quando Richard, um californiano pobre, consegue uma bolsa de estudos, é nesse seleto e impressionante grupo que ele encontra seus novos amigos. Ele vai descobrir, entretanto, que há muito mais por trás da aparente vida perfeita desses jovens.

A História Secreta é um livro que não pode ser encaixado em um único gênero literário. Ele traz o suspense típico dos livros policiais, mas sem o seu mistério, já que o narrador nos conta nas duas primeiras páginas quem são os assassinos e quem é a vítima. Por outro lado, como ocorre nos romances psicológicos, a personalidade dos personagens é aprofundada, mas o narrador não é onisciente, o que faz com que as características dos personagens sofram as distorções típicas da análise e da observação parciais. O resultado é um livro repleto de personagens marcantes e de momentos tensos, em que reflexões sobre a juventude e a vida misturam-se com uma análise do imenso sofrimento psicológico que pode advir de um crime. 

Apesar de A História Secreta ter mais de 500 páginas, a leitura nunca se torna cansativa, já que Donna Tartt envolve o leitor do início ao fim de sua obra. Os personagens complexos e fascinantes e a trama intrincada transportam o leitor para dentro da história, permanecendo com ele mesmo após o término da leitura. Esse é um livro que pode ser lido e relido, já que diversos são os sentimentos que ele provoca e diversos são os questionamentos que ele levanta. Cada leitor será influenciado por sua própria visão de mundo, já que não há aqui julgamentos morais, o que torna seus personagens ainda mais multifacetados.   

Donna Tartt, em A História Secreta, dá à narrativa um tom sempre melancólico, que reflete a personalidade de seu protagonista. O fato de a história desenrolar-se no leste dos Estados Unidos reforça esse perene sentimento de tristeza de Richard, que está constantemente com frio, com sono ou cansado. Há alguns raros momentos em que a luz do sol ilumina os cabelos louros de Camilla, fazendo Richard imaginar que está diante de um anjo, mas isso só aumenta o contraste com o tom cinza de seus dias. Em Henry, Francis, Camilla e Charles ele encontra semelhantes, seres igualmente infelizes e atormentados, ainda que jovens, ricos e belos. O mundo que Richard nos apresenta é um mundo que é reflexo de sua própria infelicidade:  
Embora hoje suspeite, dadas as circunstâncias e minha disposição, que teria sido infeliz em qualquer lugar, em Biarritz, Caracas ou na ilha de Capra, na época, estava convencido de que minha infelicidade se devia ao lugar. Talvez se devesse em parte. Embora Milton até certo ponto tenha razão – a mente é seu próprio lugar, e pode criar por si o céu ou o inferno e assim por diante (…). [p. 18]
A História Secreta é um livro fácil de ser lido, mas difícil de ser digerido. Seus protagonistas são assassinos, mas só enxergamos neles vítimas. Se a história desses jovens fosse contada em um jornal, não hesitaríamos em condená-los. Que motivos jovens ricos e belos teriam para matar alguém? Mas Donna Tartt habilmente transforma a vítima em algoz, fazendo que o leitor seja um cúmplice desses assassinos que aprendemos a amar ao longo da narrativa. E isso porque eles são reflexos de nós mesmos, seres humanos falíveis, frágeis e inseguros, que buscam a todo custo agarrar-se a algo que faça a vida valer a pena.

Nota no Skoob: 5 de 5.       
   



33 comentários:

  1. Nossa esse livro parece ser muito bom. Eu gosto demais de livros com assassinatos e essas coisas, confesso que gosto também desse clima obscuro e triste que alguns autores usam. Fiquei bastante interessada nele. Beijos

    blogfalandodelivros.blogspot.com.br

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    1. Eva, esse livro é incrível. Se puder, leia! É um dos melhores livros que li esse ano.
      Beijo! =D

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  2. O tom melancólico da narrativa foi algo que eu também amei, Eduarda!
    E esse livro me encantou também pelo fato de subverter em parte os gêneros literários e trazer vários elementos da tragédia com uma nova roupagem.
    E fico tão feliz de você também ter curtido tanto: acho que isso é algo que todo leitor experimenta - o sorriso no rosto ao ler (ou ouvir) alguém que teve uma experiência tão boa de leitura.
    Um abraço!
    Denise

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    1. Donna Tartt é sem dúvida muito culta, Denise. Se ela não fosse, não conseguiria criar uma narrativa assim, que homenageia e ao mesmo tempo subverte vários gêneros literários. Muita gente acusa ela de ser esnobe e pseudointelectual, mas eu sinceramente não senti isso na escrita dela. Muito pelo contrário. Ela muitas vezes faz questão de citar as obras que inspiraram a obra dela: Crime e Castigo, O Grande Gatsby, as tragédias gregas...
      Eu realmente amei a leitura. As recomendações e dicas de vocês são a melhor parte de participar do fórum ; )
      Beijo, Denise!

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  3. Eduarda, já comentei que adorei sua resenha, mas respondendo à sua pergunta, eu com certeza leria muito e viajaria bastante, rs. Beijinho!!!

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    1. Lua, acho que no início eu também viajaria e leria bastante, mas depois de um tempo eu teria que procurar alguma coisa produtiva para fazer. Acho que todo mundo precisa trabalhar um pouquinho, nem que seja em uma atividade voluntária. Se a vida da gente não é produtiva, acaba perdendo o sentido, não acha?
      Beijo!
      P.S. Estou adorando a discussão lá no fórum! =D

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  4. Olá Eduarda. A sua resenha está excelente! Infelizmente não poderei participar do Fórum Literário, pois eu comprei este livro em inglês, mas ele demorou para chegar. Mesmo não participando do Fórum, este livro entrará para a fila de livros para ler...COM URGÊNCIA!
    Não há questionamento sobre isto, quando se lê uma resenha como esta.
    Beijos.

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    1. Poxa, que pena Jayne! Mas você pode participar atrasada, quando terminar de ler. A maioria das pessoas gostou muito do livro, então vale a pena ler.
      Beijo! =D

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  5. Não li sua resenha. Li o primeiro capítulo do livro e achei entediante, portanto abandonei. Mas, vendo que você deu 5 estrelas, vou tentar em algum momento. E sim, gostei muito do Grande Gatsby.
    Beijos!

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    1. Se você gostou de O Grande Gatsby, então também vai gostar de A História Secreta. Eu gostei desde o primeiro capítulo, mas adianto que a trama do livro só começa mesmo quando ele chega na universidade. Espero que dê uma chance para o livro. Todo mundo lá no fórum gostou.
      Beijo! =D

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  6. Eduarda, sua resenha me lembrou um pouco de Solanin e de Foucault! *-* Quero dizer, acho que vou gostar muito, pois está junção me interessa. Maravilhosa resenha! Quero muito ler este livro.
    Desejo ótima leituras para você!
    Beijos,
    Jéssica.

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    1. Jéssica, comentei lá no seu blog que não entendi como essa resenha te lembou Solanin e Foucault. Tô até agora tentando relacionar as três coisas, sem sucesso... Rsrsrsrsrs.
      Acho que você vai gostar desse livro, viu?
      Beijo!

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Bem, eu quis dizer que em Solanin passa uma história em busca do seu encontro e prazer de fazer o que gosta. Além de uma atmosfera mesclada com a faculdade e período entre a adolescência e amadurecimento com pensamentos permeando pela trama.
      Quanto a Foucault me lembro de como a sociedade é ramificada e mesmo quem são visto numa posição de poder/hierarquia boa...a estrutura de poder como é gerido as vidas das pessoas são totalmente sem controle deles próprios. Vejo nisto um enigma de encontrarmos então a junção destes dois Foucault e Solanin para assim ver os conflitos, o sentir-se mal que não se sabe até que parte temos controle pela nossas vidas e podemos escolher nossos destinos.
      Você compreende, Eduarda?
      Beijos,
      Jéssica d´O Feminino dos Livros (ofemininodoslivros.blogspot.com.br)

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    4. Entendi, Jéssica. Parando para pensar, acho que A História Secreta tem sim algumas coisas em comum com Solanin. Há o mesmo problema da busca da identidade e de algum lugar no mundo.
      Já com Foucault eu não consegui enxergar muitos pontos em comum porque em A História Secreta eles têm sim controle sobre a própria vida. O que eles não conseguem é lidar com as consequências de seus atos. Eles perdem o controle do próprio destino por escolhas que fizeram, mas escolhas conscientes, e não impostas.
      Enfim, acho que isso dá uma boa discussão, não acha? Rsrsrsrs.
      Beijo! ^_^

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  7. Adorei a resenha Duda! Eu queria ter lido esse livro para o fórum só que não achei para comprar, mas depois de tantas resenhas positivas vou ler em um futuro próximo com certeza! Acho que é o sonho de todo mundo né, não precisa atrelar o seu trabalho ao vil metal e fazer o que precise só pelo prazer... eu abriria uma livraria com um café e passaria meus dias lendo e atendendo quem quisesse conversar sobre livros :) e viajando muito claro!
    beijos!

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    1. Eu também queria abrir uma livraria com café!!!!!!!!! *_* Que sonho...
      Eu comprei ele no site da Livraria Cultura, Tati. Foi um pouco caro, mas já soube pela Lua que ele também está à venda na Estante Virtual, mais em conta.
      Espero que leia! ; )
      Beijo!

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  8. Poxa, você tá deixando minha lista complicada... Vê se faz um post no final do ano com o top 10 de 2014, pq acho que n vai dar pra ler mais que isso ano que vem nao... =D

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    1. Listas infinitas de livros para ler! Bem vinda ao meu mundo! Rsrsrsrsrs
      Será que eu consigo escolher só 10? Sempre acabo roubando e fazendo menções honrosas nessas listas de top alguma coisa.
      Beijo!

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  9. Nossa, pelas suas reflexões, parece ser um bom livro!!
    Bem legal a resenha, parabéns!
    Bjs, Lu - http://resenhasdalu.blogspot.com.br/

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  10. Muito interessante! Seus comentários sobre o livro me deixaram com vontade de ler.
    Vou incluir na minha lista.
    Beijos! ;)

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  11. Muito interessante! Seus comentários sobre o livro me deixaram com vontade de ler.
    Vou incluir na minha lista.
    Beijos! ;)

    http://subindonotelhado.com.br/

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  12. Vou add na minha lista de desejos... Ótima dica, quero ler esse livro.
    Beijo Grande
    www.estavalendoedai.blogspot.com.br

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    1. Esse livro é incrível, Jeniffer. Acho difícil você se decepcionar.
      Beijo!

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  13. " Que motivos jovens ricos e belos teriam para matar alguém?"
    Essa é a grande questão.... a gente costuma achar que se a pessoa tem dinheiro, tempo e possibiliade de fazer e ter qualquer coisa - só pode ser uma pessoa feliz.
    Ilusão completa. Perceber isso é importante.
    Com certeza esse livro merece ser lido.
    Bjs, Lu
    http://resenhasdalu.blogspot.com.br/

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    1. Você tem toda razão, Lu. Nosso conceito moderno de felicidade é uma utopia. Sempre acreditamos que a grama do vizinho é mais verde e que aquela pessoa do Instagram tem a vida perfeita que sempre desejamos. Mas a verdade é estamos sozinhos e que a felicidade é um estado de espírito que precisa ser trabalhado diariamente. A Donna Tartt, através dos seus personagens, expõe isso muito bem.
      Beijo!

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  14. Você sabe se é possível comprar o livro em e-book?
    Toda vez que leio essa sua resenha me dá vontade de ler esse livro...rs
    Bjs, Lu - http://resenhasdalu.blogspot.com.br/

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    1. Lu, eu infelizmente não achei um ebook em português para comprar, mas se seu inglês for bom, sempre existe essa opção (ebook em inglês, quero dizer). Li o livro físico mesmo, que comprei pelo site da Livraria Cultura.
      Espero que leia porque vale muito a pena!
      Beijo!

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  15. Não conhecia esse livro, Eduarda.
    Mas se tem assassinato e presença marcante do fator psicológico, quero ler.
    Estava lendo os comentários e concordo com você. Acho que tem que haver algum tipo de atividade produtiva. Se eu não precisasse trabalhar para pagar contas, viajaria, botaria minhas leituras e filmes em dia e passaria mais tempo na cozinha fazendo invencionices :)

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    1. Eu adoraria ser produtiva com uma mesada mensal, Michele, tipo fazendo um trabalho voluntário. Rsrsrsrs. E espero que você leia. É muito bom!
      Beijo! =D

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