quarta-feira, 25 de junho de 2014

Reparação, Ian McEwan


[Lido com a Flávia, do blog Em Algum Lugar da Imaginação]

Título: Reparação
Título Original: Atonement
Escritor: Ian McEwan (Inglaterra)
Ano de Publicação: 2001
Editora: Companhia das Letras 
Páginas: 272 (Edição Econômica)

Reparação tem início no verão de 1935 e é ambientado na propriedade dos Tallis, uma família inglesa de classe média alta. Cecilia, a filha do meio, acabou de se formar na Universidade de Cambridge e está passando um último verão com a família, antes de iniciar uma vida independente; Leon, o filho mais velho, está sendo ansiosamente aguardado com um jantar de boas vindas; e Briony, a filha mais nova, de apenas 13 anos, está montando uma peça de teatro escrita por ela mesma e que será apresentada para seu irmão no dia de sua chegada. Na propriedade ainda moram Grace, uma das empregadas da casa, e seu filho Robbie, cuja educação em Cambrigde foi financiada pelos Tallis. Quando se inicia um envolvimento amoroso entre Robbie e Cecilia, a imaginação de Briony e sua vontade de um dia ser uma escritora voam soltas, com consequências imprevisíveis.

Em Reparação, Ian McEwan demonstra um imenso controle sobre seus personagens, que são complexos e assustadoramente reais, tanto em suas falhas quanto em suas qualidades. Aqui não há mocinhas e vilões, mas pessoas que lidam o melhor que podem com emoções confusas e muitas vezes contraditórias. Não há certezas ou verdades, mas sim pontos de vista; não há pessoas cruéis, mas sim pessoas mal compreendidas; e acima de tudo há a influência da percepção e da memória, que criam rachaduras na história que está sendo contatada para o leitor. Briony, ao contar o que aconteceu, põe em xeque sua própria memória ao afirmar:
Mas se ela estava sentada no sofá sendo consolada pela mãe, como poderia lembrar da chegada do Dr. McLaren, com seu colete preto e seu colarinho alto antiquado, e mais a maleta que havia assistido aos três nascimentos, e a todas as doenças infantis da família Tallis?
Essa é uma história sobre as consequências de nossos atos, sobre arrependimento, sobre perdão e principalmente sobre a imutabilidade de nossas escolhas. É impossível mudar o passado, mas quanto do passado mudamos ao longo do anos quando recontamos uma história? Os sentimentos e a memória traem, a cada instante, nossa percepção, fazendo com a realidade seja impalpável, apesar de implacável em sua irreversibilidade. 

Contudo, apesar desse intenso questionamento da percepção e da realidade, Ian McEwan nunca se afasta da história que está contando, e quando Briony recebe uma carta de uma Editora, ela é criticada por tentar imitar o estilo de Virginia Woolf:
Seus leitores mais sofisticados talvez estejam informados sobre as teorias da consciência de Bergson, mas estou certo de que eles ainda guardam em si o desejo infantil de ouvir uma boa história, de ficar em suspense, de saber o que acontece.
Assim, Briony e IanEwan por vezes se tornam um só e é através da escrita de sua protagonista que ele questiona o papel do escritor, esse mestre das ilusões e percepções, que por vezes é até mesmo acusado de ser um mentiroso. Quanto de sua própria imaginação e sua própria mente o escritor deixa em suas histórias? E será que não acabamos lendo e vendo exatamente o que queremos ler e ver? 

Reparação é um livro fascinante do início ao fim. Ian McEwan demonstra não só talento, mas também imensa sensibilidade e respeito por seus personagens e seus leitores. Essa é uma obra que foi costurada nos mínimos detalhes, mas é só quando chegamos ao final do livro que compreendemos que Ian McEwan, além de talentoso, é um gênio.   

Nota no Skoob: 5 de 5.

OBS: Há um filme de 2007, com Kiera Knighley, James McAvoy e Saoirse Ronan, chamado "Desejo e Reparação", que é inspirado na obra de Ian McEwan. O filme é excelente e repleto de atuações maravilhosas, mas recomendo a leitura prévia, para evitar que as grandes surpresas do livro sejam estragadas.

OBS 2: A Companhia das Letras tem duas edições de Reparação: uma tem 448 páginas (edição normal) e outra tem 272 páginas (edição econômica). Eu só encontrei à venda a edição econômica, mas a fonte é tão pequena e incômoda que recomendo a leitura da edição normal, se ainda for possível encontrá-la. Fica a dica ; )

Vídeo no YouTube:











14 comentários:

  1. Eduarda, esse livro é muito bom, realmente. Só não dei 5 estrelas por causa de alguns capítulos que achei enfadonhos, especificamente alguns momentos da Briony sendo enfermeira e porque a surpresa do final não foi exatamente uma surpresa pois eu já tinha lido Serena e sabia que o autor sempre faz um twist. Mas ainda assim é um livro incrível e o filme é muito legal também, especialmente por causa do McAvoy, que é muito lindo e talentoso, rs. Beijinho!!!

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    1. James McAvoy é muito amor mesmo, Lua. =D
      Engraçado como são diferentes as impressões de leitura das pessoas, né? Já eu gostei dos capítulos em que a Briony é enfermeira, mas achei meios chatinhos os capítulos da guerra...
      E Serena? É bom? Já ouvi opiniões nos dois sentidos.
      Beijo!

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    2. Eduarda, fiz um texto curtinho lá no blog sobre Serena ( http://lualimaverde.wordpress.com/2013/02/14/serena/ ), gostei mais ou menos, Reparação é bem melhor. Mas olha, muita gente ama Serena, é daqueles casos que dividem opiniões. =D

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    3. Adoro livros que dividem opiniões! Além do prazer de ler o livro, a gente ainda tem o prazer de ler as várias opiniões diferentes. Fiquei com mais vontade ainda de ler só por causa disso.
      Agora vou passar lá no seu blog para ler a resenha! ; )

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  2. Oi Eduarda, tudo bom? Eu ouço falar muito de Ian McEwan, mas só conheço o trabalho dele como ator mesmo. Esse livro me pareceu ser mesmo muito bom. Primeiro por causa do que você falou sobre ele e segundo porque eu gosto muito de livros que falam sobre literatura e a arte de escrever.
    Beijos

    blogfalandodelivros.blogspot.com.br

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    1. Espero que dê uma chance para o livro, Eva =D
      E acho que você confundiu Ian McEwan com Ewan McGregor... Os nomes são parecidos mesmo. Se a gente tentar pronunciar o nome desses dois um depois do outro vira trava língua. Hahahahahahahahaha.
      Beijo!

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  3. Yeyyyy Duda, que linda sua resenha <3
    Realmente é um livro sobre a imutabilidade de nossas escolhas e como somos chamados a fazê-las às vezes tão jovens e elas nos perseguem pelo resto da vida. Acho que o McEwan conseguiu usar esse conceito de uma forma tão bonita, mostrando que é uma forma que temos para aguentar as dores...
    Fico feliz que você tenha gostado, vai falar dele em vídeo também?
    Beijo enorme!

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    1. Sabe que eu achei isso bem interessante no livro, Tati? Ninguém dá um desconto para a Briony pelo fato de ela ainda ser uma criança... Talvez porque ela mesma não se dê esse desconto.
      Ainda não sei se vou fazer um vídeo só para ele, mas com certeza ele vai aparecer no vídeo de leituras do mês de junho.
      Beijo!

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  4. Reparação é um livro tocante! Infelizmente eu acabei assistindo o filme antes e estragou toda a surpresa Ç_Ç
    Linda resenha, Eduarda! ^_^

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    1. Eu também assisti o filme antes de ler o livro, Lulu, mas você acredita que mesmo já sabendo a surpresa me emocionei? A história é muita bonita, especialmente pelos olhos de Briony.
      Um beijo!

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  5. Eduarda, desculpe-me pelo atraso. Eu já havia terminado a leitura, mas não conseguia escrever a resenha. Esse foi meu primeiro livro do McEwan e compartilho da sua opinião, é genial.

    As personagens muito bem construídas, os cenários, a descrição dos momentos que antecedem o grande acontecimento em 1935, os desdobramentos da guerra, etc tudo reconstruído com detalhes muito ricos como se estivéssemos assistindo a tudo.

    Gostei também do fato dos personagens não serem esteriotipados, em nenhum momento senti raiva de Briony, mas uma profunda pena, dor e tristeza pelo desenrolar dos fatos. Como doeu ver o aconteceu com Robbie e Cee. Foi uma grande surpresa.

    Muitos questionamentos ficaram, como a maneira como construímos nossas memórias, os erros que podem causar danos irreparáveis, e principalmente a expiação que Briony se impôs durante toda a vida. Imagine, acordar e dormir com o pensamento fixo em um único momento em que a vida poderia ser doce, aos treze anos estamos começando a descobrir.

    Mas, o amor!!! Sem dúvida, Robbie e Cecília entraram para aquele rol dos amantes da ficção que ficarão para sempre em minha memória. Falando em memória, a doença de Briony fecha perfeitamente o texto de McEwan.

    Agradeço a você por ter me convidado a fazer essa leitura maravilhosa, inesquecível, se não fosse isso estaria adiando ainda a leitura desse livro incrível.

    Beijos

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    1. Flávia, eu também vou pensar sempre no casal Robbie e Cecília. Enquanto eu lia o livro só me lembrava daquela música que diz assim "porque todo grande amor só é bem grande se for triste". O Robbie em especial me emocionou muito... Pensei muito na mãe dele. Acabei sem saber o que aconteceu com ela, exceto que ela se mudou para uma cidade pequena.
      Depois dê uma olhada no comentário que deixei lá na sua resenha! ; )
      Um beijo!

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  6. Gostei tanto do filme!
    Já tinha vontade de ler o livro e fiquei ainda mais depois da sua resenha!

    Beijinhos!

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    1. Eu também adorei o filme, Aline. E o livro é igualmente bom. Depois vou querer saber o que você achou do livro.
      Beijo! =D

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