domingo, 23 de fevereiro de 2014

A Lua de Mel, Sophie Kinsella: é um problema falar mal de chick lit?


Título: A Lua de Mel
Título Original: Wedding Night
Escritora: Sophie Kinsella (Inglaterra)
Ano de publicação: 2013
Editora: Record

Lottie namora com Richard há alguns anos e quando ele a convida para jantar e diz que tem uma grande pergunta para fazer, ela imediatamente se prepara para um pedido de casamento. Quando ela descobre que Richard nunca teve a intenção de propor o matrimônio, decide casar com um antigo namorado chamado Ben e passar a lua de mel em uma ilha grega. É então que a irmã de Lottie, Fliss, acompanhada do melhor amigo de Ben, viaja imediatamente para a ilha para boicotar a lua de mel da irmã e impedir que ela cometa um grande erro.

Os livros de Sophie Kinsella são ótimos para espantar o mau humor, e não é diferente com "A Lua de Mel". As situações que ela cria são tão absurdas que chegam a ser cômicas e imagino que todos os livros da escritora facilmente seriam transformados em roteiros de filmes do gênero comédia romântica. Eu sinto necessidade de intercalar leituras difíceis com leituras bobinhas e Sophie Kinsella é uma ótima representante dessa última categoria.

Atualmente, falar de chick lit tornou-se um problema. Eu sinceramente quase desisti de escrever aqui as minhas impressões de leitura. E isso porque é quase impossível falar mal de um chick lit sem ser acusado de agir com preconceito literário. Por conta de tudo isso, eu quero fazer alguns esclarecimentos iniciais. Sinta-se à vontade para pular a leitura desse parágrafo caso o assunto não te interesse! Mas vamos lá. Eu penso da seguinte forma: cada livro tem um objetivo, um público alvo e um estilo. Não dá para comparar Dostoiévski com Sophie Kinsella e nem todo escritor tem a pretensão de ganhar o nobel de literatura e entrar para a história da literatura mundial. Mas isso não significa que não se possa analisar um livro dentro do que ele se propõe a ser. Há bons chick lits, há chick lits ruins e há chick lits regulares, mas obviamente a percepção do leitor mudará conforme suas experiências pessoais. Juliana Jervason, do blog O Batom de Clarice, fez uma ótima metáfora: há livros que são aquele miojo que você prepara rapidinho e que saciam sua fome naquele momento e há livros que são pratos elaborados por grandes chefs de cozinha. É exatamente assim que eu penso. Há espaço na vida para tudo, miojo e cozinha sofisticada, e é importante provar de tudo e formar suas próprias opinões e gostos.

Feitas essas observações preliminares, vamos ao novo livro de Sophie Kinsella. A Lua de Mel é, pelo menos para mim, um chick lit regular. É divertido, repleto de momentos engraçados, a leitura é leve e rápida e há um toque de romantismo. É um livro ótimo para quem se distrair e esquecer um pouco os problemas da vida. Sophie Kinsella escreve muito bem e o ritmo de seus livros é muito bom. Ela é especialmente boa com os diálogos. 

O grande problema de "A Lua de Mel" é o desenvolvimento dos personagens e do enredo. As duas irmãs, Lottie e Fliss, estão na casa dos 30 anos e são muito bem sucedidas profissionalmente, mas comportam-se a maior parte do tempo como adolescentes. Lottie, apesar de já ter sofrido diversos rompimentos amorosos, é incapaz de agir racionalmente após o término do namoro, não hesitando em casar apressadamente com um homem que ela não vê há 15 anos, mesmo tendo testemunhado o complicado divórcio da irmã. Já Fliss não vê problema algum em retirar seu filho de 7 anos da escola para acompanhá-la em uma viagem que tem o único objetivo de boicotar a lua de mel da irmã. Ben é a caricatura perfeita do rico homem incompreendido em crise de meia idade e Lorcan tem sua vida completamente revolucionada pelos rápidos conselhos de Fliss. A relação entre Richard e Lottie nunca é explorada e todo o potencial do relacionamento entre Fliss e Lorcan nunca chega a se concretizar. Tudo soa artifical, forçado e exagerado, especialmente o enredo. Beira o ridículo acompanhar as peripécias de Fliss para impedir a consumação do casamento de Ben e Lottie e a explicação para tanto esforço - é mais fácil anular um casamento não consumado do que obter um divórcio - soa ainda mais inverossímel.              

Um dos méritos do livro é, sem dúvida, a forma como Sophie Kinsella explora a idealização do passado e da juventude. Quem nunca visitou um lugar que achava maravilhoso na infância e ficou decepcionado? Lottie casa com Ben porque deseja reviver todos os momentos felizes que passou com ele quando tinha 18 anos e não é diferente para o próprio Ben, que confessa: 
Quando eu tinha 18 anos, eu sabia o que eu queria. Eu tinha lucidez. Mas você começa a vida e de repente tudo fica corroído. Corrompido. Tudo se fecha ao redor de você. Não tem fuga. Não tem como dizer "Pare um momento, porra. Me deixe descobrir o que eu quero".
A Lua de Mel é um livro que tinha potencial para ser muito mais do que é. Infelizmente, Sophie, apesar de nos proporcionar uma boa diversão com seu novo livro, exagerou nas doses de inverossilhança, impedindo que o leitor compre verdadeiramente seus personagens e sua história.

Vídeo do YouTube em que comento a leitura do livro:

2 comentários:

  1. Gostei da sua análise. Nunca li chick-lit e por isso não tenho nenhuma opinião formada sobre o assunto. Dentro de cada gênero textual encontramos livros bons e ruins, mesmo um escritor que tem alto conceito pode ter escrito um livro regular. Vale lembrar por exemplo da fase romântica de Machado de Assis, com livros que não são tão expressivos e que não o tornariam um grande escritor.
    Mas, vamos ao que interessa. Em algum momento do desafio literário do skoob, teremos que ler um chick-lit. Qual você indicaria, para alguém que nunca leu esse gênero textual? (nunca li, mas assisti Bridget Jones e amei)

    Beijos!

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    1. Concordo com você, Flávia. Nunca tive coragem de ler nenhum livro de Machado de Assis dessa fase romântica polêmica... Não sou uma grande leitora de chick lit, mas até hoje só gostei, gostei mesmo de dois: Bridget Jones (meu preferido) e O Segredo de Emma Corrigan, de Sophie Kinsella.
      Beijo!

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