quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

2001: Uma Odisseia no Espaço, Arthur C. Clarke


Lido para o Fórum Literário entre Pontos e Vírgulas

Título: 2001: Uma Odisseia no Espaço
Título Original: 2001: A Space Odyssey
Escritor: Arthur C. Clarke
Ano de Lançamento: 1948
Gênero: Ficção Científica

Não é difícil resumir a história desse livro: um monólito negro é encontrado enterrado na lua. Pelas características do artefato, conclui-se que ele comprova a existência de vida extraterrestre, o que lança o homem a uma jornada no espaço rumo a respostas.

Imagino que todos aqueles que não são grandes fãs do gênero ficção científica desistirão de ler o livro só por conta dessa sinopse. Essa
obra, contudo, é capaz de agradar até mesmo os que se entusiasmam pouco com o gênero, e isso se deve ao fato de que muito mais do que especular sobre a ciência e a tecnologia, 2001 adentra nos grandes temas da existência humana: a insignificância do homem perante um universo infinito, a possibilidade de vida fora da Terra, os limites da inteligência humana e a relação homem/máquina.  

A história desse livro pode ser dividida, basicamente, em três grandes partes: a) a história de Amigo-da-Lua, um antepassado pré-histórico do ser-humano; b) a jornada do Dr. Heywood Floyd à lua para investigar o monólito lá encontrado; c) a viagem do astronauta David Bowman rumo ao planeta Saturno.

Das três partes, a minha favorita foi a primeira, talvez por ser a mais bem humorada e ágil das três. Arthur C. Clarke nos conta a rotina da tribo pré-histórica de Amigo-da-Lua, um homem-macaco. Não sei exatamente a que antecessor do homem Clarke está se referindo, mas Amigo-da-Lua, com seu 1,50 metros, é um dos homem mais altos da tribo e pesa incríveis 400 quilos! O esforço de Clarke para imaginar como pensaria um ser de inteligência inferior à nossa é bastante curioso e divertido. Clarke também localiza muito bem no tempo a existência desses homens-macaco, ao narrar que após quatro grandes era glaciais, a Terra finalmente está quente outra vez, o que indica que essa história se passa há aproximadamente 200.000 mil anos. E é justamente aqui que surge a que, para mim, é a mais interessante discussão do livro: a insignificância do homem perante o universo.  

Clique para ver a fonte
O gráfico ao lado mostra as eras geológicas do planeta Terra. Foi somente no período quaternário, mais especificamente no Pleistoceno, que os primeiros antepassados do ser humano surgiram, há aproximadamente 2 milhões de anos. Durante o pleistoceno ocorreram diversas eras glaciais, com intervalos de 200.000 mil anos entre uma e outra. O homem-macaco de Clarke já vive em uma Terra aquecida, com condições ideais para o desenvolvimento da raça humana, ou seja, ele surge já na história recente do planeta Terra

O que Clarke nos diz é que apesar de nos considerarmos extremamente relevantes, nossa existência é apenas uma pegada para um universo que nos precede e nos sucederá. Em um trecho do livro, por exemplo, Bowman se depara com imensidão do planeta Júpiter e pensa que caso o mapa da Terra fosse colocado em cima do mapa de Júpiter, a Terra ocuparia apenas a dimensão da Índia!         

Outro ponto alto do livro é sem dúvida o confronto entre o computador HAL e Bowman. HAL, como supercomputador que é, sabe que suas capacidades intelectuais são infinitamente superiores às de Bowman e acredita que sozinho levaria melhor a cabo a missão. O que chama a atenção não é, contudo, o "surto" de HAL, mas sim a forma como Bowman compreende os comportamentos de HAL, atribuindo-os inclusive a sentimentos humanos, tais como a culpa decorrente da mentira e o desespero gerado por ter sido descoberto ocultando fatos. Clarke chega inclusive a narrar uma parte da história pela perspectiva de HAL e seus pensamentos nos parecem tão humanos quanto os de Bowman. O questionamento fica implícito: até que ponto somos diferentes de máquinas? O que nos torna humanos?

A sensação que tenho é a de poderia passar horas escrevendo sobre 2001 e sobre as tantas discussões que ele levanta, mas vou finalizar com um dos trechos do livro que mais me encantou, que é quando o Dr. Floyd pergunta a Diana, uma criança que sempre viveu numa estação espacial na lua, se ela gostaria de ir para a Terra. Ela, com olhos arregalados de espanto, responde "É um lugar ruim. A gente se machuca quando cai. Além disso lá tem gente demais". Talvez esse futuro esteja mais próximo do que imaginamos.

Resumindo, 2001 uma Odisseia no Espaço é um livro excelente e não me espanta nem um pouco que ele tenha alcançado a fama que alcançou. A escrita de Clarke é fluida e surpreendentemente poética para um escritor de ficção científica. Por vezes, senti que a narrativa perdia muito tempo com descrições que eu não compreendia muito bem, mas acredito que isso decorra do fato de que tenho muito pouco conhecimento acerca de astronomia, ciência, física ou matemática. Mais do que recomendada, é leitura obrigatória!  

SPOILER: Confesso que o final do livro me deixou um pouco confusa. Pelo que entendi, Bowman encontra esses seres extraterrestres incorpóreos que o evoluem para uma forma de vida superior, em que a mente é finalmente separada do corpo, da matéria. Como ele ainda não está plenamente preparado para viver sem corpo, ele assume a forma de uma criança, mas Clarke dá a entender que, no futuro, ele poderia até mesmo existir sem uma forma física. Essa criança viaja até o nosso sistema solar e, em frente à Terra, que para ele é um "brinquedo brilhante e irresistível", usa sua vontade para direcionar uma carga letal para o globo. Clarke nos diz que "A história - tal qual o homem a conhecera - estaria chegando ao fim", já que essa criança prefere "céus mais limpos". Essa criança seria, então, a responsável pelo início de uma nova era da história da humanidade, uma em que nós alcançaríamos um estágio de evolução e inteligência até então impensáveis? Seria a destruição da Terra simbólica? Ou essa criança simplesmente mata toda a humanidade, a exemplo do que a inteligência superior da HAL o fez fazer com a tripulação da Discovery? Ficou a dúvida...








3 comentários:

  1. Sua resenha ficou sensacional. Concordo com seus pontos de vista e a história dos homens pré-históricos é bastante cativante. O final fica obscuro porque tem uma continuidade que ainda não li, mas imagino que Clarke dê mais esclarecimentos sobre isso. Não acho que aquele bebê iria destruir a Terra, mas sim se unir aos seres humanos de alguma forma para impulsionar a evolução, pois em algum momento do livro o autor faz algum tipo de referência nesse sentido.
    Esse é o primeiro livro de ficção científica que eu leio e fiquei com vontade de ler a continuação dessa Odisseia e outros autores como Asimov e Philip Dick.

    Beijos!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada! =D Se esse é o seu primeiro livro de ficção científica, posso te indicar um? Eu até mencionei ele no meu post das melhores leituras de 2013. É "A Mão Esquerda da Escuridão", de Ursula Le Guin. A Editora é a Aleph também. Você não vai se arrepender! É o melhor que já li.

      Excluir